As Coincidências do Bolsonarismo

Pedro Ruas
4 min readJun 4, 2020

Há poucos dias Bolsonaro publicou um vídeo com a frase "Melhor viver um dia como leão que cem anos como cordeiro". Essa frase foi popularizada por Mussolini e usada como um bordão do regime. Porém, por existir antes dele, alguns defendem ter sido apenas coincidência. Existem muitas outras coincidências como esta no movimento bolsonarista. Aqui vão algumas delas que parecem associar o bolsonarismo a um movimento de extrema direita.

O ex secretário da cultura do governo, por coincidência, se utilizou de uma música de Richard Wagner (conhecido por ser o compositor preferido de Hitler e um crítico dos judeus) para fazer seu pronunciamento. Este pronunciamento, por coincidência, era quase uma citação direta de um pronunciamento do ministro da cultura e propaganda alemã do regime nazista, Joseph Goebbels.

Uma das líderes do movimento bolsonarista, Sara Winter, por coincidência, se “batizou” com o mesmo nome de uma famosa neonazista britânica, além de ter uma tatuagem da cruz de ferro, símbolo de uma condecoração dada a militares alemãs que foi apropriada pelos nazistas. Há poucos dias Sara realizou protestos semelhantes aos da Klu Klux Klan, com uso de tochas e máscaras, muito provavelmente por coincidência.

Olavo de Carvalho, guru intelectual do governo, já se declarou fã de um dos intelectuais da extrema direita americana, Stefan Molyneux, que por coincidência é conhecido por difundir ideias raciais muitas vezes associadas a supremacistas brancos e ao etno nacionalismo. Em “O Imbecil Coletivo”, um dos livros de Olavo, o autor chega a associar a escravidão a uma punição aos negros, além de taxar a cultura negra como inferior. "Se foram escravos por mais de um séc depois de terem sido senhores de escravos por mais de um milênio, devem agradecer a Deus pela clemência do seu destino". Olavo também vem criando uma narrativa para defesa de quebra institucional e concentração do poder no executivo com a justificativa de ser “a vontade do povo”, além de pena de morte a um ministro do STF.

Praticamente todos os protestos recentes a favor de Bolsonaro pedem o uso dos militares para concentrar poder no executivo acabando com os freios e contrapesos da democracia liberal, além de alguns defenderem a volta do AI-5. Por coincidência, Ivis Gandra, Alan dos Santos, Eduardo Bolsonaro e Jair Bolsonaro vem divulgando uma narrativa de possibilidade de uso do exército como “poder moderador” e segundo Eduardo, uma ruptura institucional seria inevitável.

Entre as bandeiras dos protestos em defesa de Bolsonaro estão algumas com um símbolo ucraniano. A princípio o símbolo é comum, apesar de apropriado por movimentos de extrema direita no país. No entanto, este símbolo com o fundo vermelho e preto, por coincidência, é o mesmo usado pela OUN-B, uma vertente mais radical do “Organization of Ukrainian Nationalists” que é considerado não só fascista como também teria contribuído para morte e perseguição de 100.000 civis poloneses contribuindo com o regime nazista.

Em 2015 Carlos Bolsonaro convidou o senhor da foto do post para discursar na câmara de vereadores do rio. O senhor, aparentemente fantasiado de Hitler e com uma cruz de ferro na roupa, também foi candidato a vereador em 2016 pelo PSC, em que estava Bolsonaro na época, além de receber doação de Flávio Bolsonaro.

Outra coincidência interessante é que o pai do Ernesto Araújo, ministro das relações exteriores, além de ter apoiado o golpe militar e ter e censurado uma série de obras durante o regime, também negou a extradição de Gustav Franz Wagner, um nazista subcomandante de Sobibor, um campo de concentração na Polônia. Segundo Ernesto Araújo o pai estava defendendo o “Estado de Direito” e não o nazista.

O ministro teria distribuído também o livro do Ustra, torturador chefe do DOI-CODI durante a ditadura militar, para diplomatas no intuito de embasar uma de suas palestras. Segundo integrantes do Itamaraty a palestra ficou pronta, mas não veio a ocorrer. O mesmo torturador havia sido elogiado por Bolsonaro como um “herói nacional”.

Pessoas que acham nada demais Bolsonaro usando uma frase popularizada por Mussolini e símbolo do fascismo italiano também devem achar que um cara branco, de coturno e cabelo raspado usando uma suástica muito provavelmente é apenas um budista, dado que a suástica também não é originalmente nazifascista. O fato de Bolsonaro ser contra a democracia, defender intervenção militar, tortura, nacionalismo, anti liberal e ser racista talvez seja mais uma coincidência.

https://en.wikipedia.org/wiki/Sarah_Winter

https://www.otempo.com.br/politica/bolsonaro-compartilha-video-com-bordao-de-mussolini-e-gera-criticas-no-twitter-1.2344423

https://en.wikipedia.org/wiki/Stefan_Molyneux

https://en.wikipedia.org/wiki/Organization_of_Ukrainian_Nationalists

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/02/procurador-geral-pai-do-chanceler-ernesto-araujo-dificultou-extradicao-de-nazista.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/02/meu-pai-defendeu-estado-de-direito-e-nao-foragido-nazista-escreve-chanceler.shtml

https://extra.globo.com/noticias/rio/candidatura-de-homem-que-foi-camara-vestido-como-hitler-gera-polemica-nas-redes-20094466.html

Entrevista do Olavo para Molyneux:

https://m.youtube.com/watch?v=4qMSWlTDUKc

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